Tem um tipo de solidão que não aparece nas estatísticas. É aquela que você sente mesmo rodeada de gente. Aquela que aperta o peito no meio da tarde, quando a casa está silenciosa demais. Aquela que faz você pegar o telefone só para ouvir a voz de alguém.
Eu conheci essa solidão logo nos primeiros meses após me aposentar. E ela me pegou de surpresa.
Sempre fui uma pessoa cercada de pessoas. A redação fervia de gente, conversas, telefonemas. Chegava em casa e tinha os filhos, o Rúben, a correria da rotina. Solidão? Isso não existia no meu dicionário. Ou pelo menos eu achava que não existia.
Mas quando os filhos saíram de casa e eu parei de trabalhar, percebi algo assustador: eu podia passar o dia inteiro sem conversar com ninguém além do Rúben. E às vezes, nem com ele, porque o consultório o mantinha ocupado.
Foi então que entendi: a saúde mental depois dos 60 exige atenção. Cuidado. Estratégia.
O Silêncio que Ensurdece
As primeiras semanas foram as mais difíceis. Eu acordava, o Rúben saía para trabalhar, e a casa ficava… vazia. Um vazio que ecoava.
Ligava a televisão para ter algum som. Mas televisão não conversa de volta. Pegava o telefone para ligar para as amigas, mas elas estavam trabalhando. Os filhos, ocupados com suas próprias vidas.
E ali estava eu. Sozinha. Com todo o tempo do mundo e ninguém para compartilhar.
Foi quando a tristeza começou a bater à porta. Não era depressão (ainda bem que reconheci a diferença!), mas era uma melancolia persistente, um desânimo que ia se instalando aos pouquinhos.
“Berta, você precisa fazer alguma coisa”, disse a Milene quando percebeu meu estado. “Você precisa se conectar com pessoas.”
Ela tinha razão. Mas como? Como criar conexões quando você não tem mais o trabalho como ponto de encontro?
Entendendo a Solidão (Sem Vergonha)
Primeiro, precisei aceitar algo difícil: sentir solidão não é fraqueza. Não é sinal de que algo está errado comigo. É uma resposta humana natural ao isolamento social.
Nós, seres humanos, somos feitos para conexão. Precisamos de vínculos, de trocas, de pertencimento. E quando esses vínculos diminuem (como acontece naturalmente na aposentadoria, no envelhecimento), a solidão aparece.
O problema não é sentir solidão. O problema é não fazer nada a respeito.
Estudos mostram que a solidão crônica tem impactos sérios na saúde: aumenta risco de doenças cardíacas, compromete o sistema imunológico, pode levar à depressão. É tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia.
Então não, não é “frescura”. É sério. E merece atenção.
Minhas 7 Estratégias Contra a Solidão
Não existe fórmula mágica. Mas depois de muito tentar, errar e acertar, encontrei estratégias que funcionam para mim. Vou compartilhar com você:
1. Criei Rituais de Conexão Semanal
Em vez de esperar que as pessoas me procurassem, comecei a criar momentos fixos de encontro:
- Segunda à tarde: Chamada de vídeo com a Anelíse (que mora em outra cidade)
- Quarta: Almoço rotativo com amigas (cada semana na casa de uma)
- Sexta: Café da manhã especial com o Rúben, só nós dois
- Sábado a cada 15 dias: Almoço em família
Colocar esses encontros na agenda fez toda a diferença. Porque agora eu sempre tinha algo para esperar. E as pessoas sabiam que podiam contar comigo nesses horários.
2. Entrei em Grupos e Atividades Coletivas
Isso foi um divisor de águas. Procurei atividades onde eu pudesse conhecer gente nova e criar vínculos:
Grupo de leitura: Uma vez por mês, nos reunimos para discutir um livro. São mulheres da minha idade, com interesses parecidos. Algumas viraram amigas de verdade.
Coral da terceira idade: Sempre quis cantar. Achei um coral no bairro e me inscrevi. É uma delícia! Ensaiamos toda terça-feira, e depois do ensaio sempre tomamos um café juntas.
Voluntariado: Uma vez por semana, ajudo numa biblioteca comunitária. Organizo livros, converso com os visitantes, conto histórias para crianças. Me sinto útil e conheci pessoas incríveis.
O segredo não é só participar, é se permitir criar vínculos. Puxar conversa. Trocar telefone. Marcar de tomar um café depois.
3. Mantive Viva a Rede de Amizades Antigas
Com a correria da vida, perdi contato com muitas amigas. Mas depois que me aposentei, fiz um esforço consciente para retomar essas conexões.
Peguei a agenda antiga. Procurei nomes de pessoas que foram importantes para mim. E comecei a mandar mensagens: “Oi, fulana! Pensei em você hoje. Como está a vida?”
Algumas responderam de imediato. Outras demoraram. Algumas conversas não foram adiante. Mas várias amizades foram resgatadas. E hoje, essas mulheres são parte essencial da minha rede de apoio.
Dica importante: Não espere que as pessoas venham até você. Seja você quem dá o primeiro passo. Sempre.
4. Aprendi a Usar a Tecnologia a Meu Favor
Confesso que tinha resistência. “Essas coisas de computador não são para mim”, eu dizia. Mas a tecnologia, quando bem usada, é uma ponte contra a solidão.
Aprendi a usar:
- WhatsApp: Grupos de família, grupos de amigas, conversas individuais
- Videochamada: Para ver o rosto dos netos, das filhas
- Facebook: Para acompanhar a vida das pessoas queridas e compartilhar meus textos
- YouTube: Para assistir a vídeos sobre temas que me interessam e até fazer comentários (isso gera conexões!)
O Sebastian me ensinou tudo com paciência. E hoje, a tecnologia me mantém conectada mesmo quando não posso sair de casa.
5. Cultivei a Conexão com a Vizinhança
Algo que tinha me esquecido: os vizinhos estão ali, pertinho. E muitos deles também sentem solidão.
Comecei pequeno:
- Cumprimentar sempre quando encontro alguém
- Parar para conversar dois minutos no portão
- Oferecer um pedaço de bolo que fiz
- Perguntar se a vizinha de 75 anos precisa de algo do mercado
Essas pequenas interações criaram laços. Hoje, tenho vizinhas que viraram amigas. Trocamos plantas, receitas, conversas. Se eu não apareço por uns dias, elas batem na porta para ver se está tudo bem.
É reconfortante saber que tem gente por perto que se importa.
6. Abri Espaço para Novas Amizades (Mesmo Depois dos 60!)
Tem um mito bobo de que depois de certa idade a gente não faz mais amigos novos. Bobagem! Fiz amizades lindas depois dos 60.
A Maria, que conheci no grupo de leitura. A Tereza, do coral. A Joana, da biblioteca. São mulheres que não faziam parte da minha vida antes, mas que hoje são essenciais.
O segredo é estar aberta. Dar chance. Não ficar presa à ideia de que “já tenho amigas suficientes” ou “nessa idade não se faz mais amizades profundas”. Se faz, sim!
7. Procurei Ajuda Profissional (Sem Vergonha)
Teve um período em que a tristeza estava forte demais. A solidão tinha se transformado em algo mais pesado. Foi quando procurei uma psicóloga.
Melhor decisão que tomei.
Ela me ajudou a entender os sentimentos, a criar estratégias, a reconhecer padrões. Não foi “coisa de louco”. Foi cuidado. Foi carinho comigo mesma.
Terapia não é só para quem está em crise. É para quem quer viver melhor. E não tem idade para começar.
A Diferença Entre Solidão e Solitude
Uma das coisas mais importantes que aprendi: solidão é diferente de solitude.
Solidão é o sentimento doloroso de estar desconectado, de não pertencer, de estar só sem querer estar.
Solitude é a escolha consciente de estar consigo mesmo. É o prazer de ter tempo sozinha, de estar bem na própria companhia.
Hoje, tenho momentos de solitude que adoro: minha hora de leitura, minha caminhada matinal, meus minutos de meditação. Escolho estar sozinha nesses momentos porque me fazem bem.
Mas quando a solidão bate – aquela sensação ruim, pesada – eu tenho ferramentas para lidar com ela. E sei que não preciso enfrentá-la sozinha.
Você Não Está Sozinha (Mesmo que Pareça)
Se você está lendo isto e se sentindo só, quero que saiba: você não é a única. A solidão na terceira idade é muito mais comum do que parece. Mas a boa notícia é que tem saída.
Comece pequeno:
- Mande uma mensagem para alguém que você não fala há tempos
- Saia para dar uma volta no quarteirão e cumprimente as pessoas
- Procure um grupo de atividade que te interesse
- Ligue para alguém em vez de só mandar mensagem
- Aceite convites mesmo quando a preguiça falar mais alto
E lembre-se: pedir ajuda não é fraqueza. É sabedoria.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde do corpo. E merece o mesmo cuidado, a mesma atenção, o mesmo carinho.
Você merece viver conectada. Você merece pertencer. Você merece não estar só.
E você? Como lida com a solidão? Tem estratégias que funcionam? Vamos conversar aqui nos comentários. Às vezes, só de compartilhar, a gente já se sente menos sozinha. 💛