Tem algo quase mágico em fazer pão. Algo que não consigo explicar direito, mas que sinto toda vez que coloco as mãos na massa.
Não é só sobre o produto final (embora o pão quentinho seja uma delícia). É sobre o processo. O ritual. O tempo que você dedica. As mãos na massa. O cheiro tomando conta da casa.
Fazer pão é terapia. É meditação. É um ato de amor.
Durante anos, achei que fazer pão era complicado demais. Coisa para padeiro profissional. Eu, simples mortal, não conseguiria.
Até que um dia, no auge da pandemia, em 2020, com tempo sobrando e ansiedade nas alturas, resolvi tentar.
E descobri que não é difícil. Não é complicado. Só exige tempo. E paciência. E vontade de colocar as mãos na massa (literalmente).
Hoje, faço pão toda semana. Virou parte da minha rotina. Da minha terapia. Do meu autocuidado.
E quero te ensinar. Quero te mostrar que você também consegue. Que fazer pão não é mistério. É técnica simples + tempo + carinho.
Por Que Comecei a Fazer Pão
Foi em abril de 2020. Pandemia. Quarentena. Mundo parado.
Eu estava ansiosa. Muito ansiosa. Sem poder sair, sem poder ver os filhos e netos, sem rotina. A cabeça não parava nunca.
Vi na internet que todo mundo estava fazendo pão. Era quase uma febre. “Vou tentar também”, pensei. “O que custa?”
Peguei a receita mais simples que encontrei. Farinha, água, sal, fermento. Só isso.
Comecei. E na primeira vez que coloquei as mãos na massa, algo aconteceu.
Minha mente parou.
Não estava pensando na pandemia. Não estava pensando nas notícias ruins. Não estava pensando em nada além daquele momento: as mãos na massa macia, o movimento ritmado de sovar, o cheiro da farinha.
Pela primeira vez em semanas, eu estava presente. Ali. Naquele momento. Fazendo pão.
E quando o pão saiu do forno, quentinho, perfumado, dourado, senti algo que não sentia há muito tempo: orgulho. Satisfação. Paz.
Tinha criado algo com minhas próprias mãos. Algo bom. Algo que nutria.
Foi quando entendi: fazer pão não é só fazer comida. É fazer terapia.
A Receita Básica (Que Funciona Sempre!)
Vou te ensinar a receita que uso. É simples. É infalível. E rende 2 pães pequenos (perfeito para a semana).
Ingredientes:
- 500g de farinha de trigo (tipo 1, se conseguir)
- 300ml de água morna (não quente! Morna, na temperatura do corpo)
- 10g de sal (2 colheres de chá rasas)
- 10g de fermento biológico seco (1 sachê pequeno)
- 1 colher de sopa de açúcar (para “acordar” o fermento)
- 2 colheres de sopa de azeite (opcional, mas deixa mais macio)
Equipamentos:
- Uma tigela grande
- Um pano de prato limpo
- Suas mãos (o equipamento mais importante!)
O Passo a Passo (Com Calma!)
Passo 1: Acordar o Fermento (5 minutos)
Numa tigelinha pequena, misture:
- A água morna
- O açúcar
- O fermento
Mexa levemente. Deixe descansar por 5 minutos.
Você vai ver que começa a formar bolhinhas na superfície. Isso significa que o fermento está “vivo”, ativo.
Se não formar bolhinhas: Seu fermento está velho/morto. Jogue fora e use outro. (Sim, já passei por isso!)
Passo 2: Misturar os Ingredientes (2 minutos)
Numa tigela grande, coloque:
- A farinha
- O sal (ponha longe do onde vai colocar o fermento – sal mata fermento!)
Faça um buraco no centro (tipo um vulcão).
Despeje:
- A mistura de água com fermento
- O azeite
Com uma colher (ou com as mãos mesmo), comece a misturar. Vá incorporando a farinha aos poucos.
Vai ficar uma massa grudenta, meio bagunçada. Tudo bem! É assim mesmo.
Passo 3: Sovar (10-15 minutos) – A PARTE TERAPÊUTICA!
Jogue um pouquinho de farinha na bancada. Coloque a massa em cima.
E agora: sove.
Como sovar:
- Empurre a massa para frente com a palma da mão
- Dobre de volta
- Gire 90 graus
- Repita
Vai parecer estranho no começo. A massa vai estar grudenta, difícil. Mas continue. Aos poucos, ela vai ficando lisa, elástica, bonita.
Quanto tempo? Uns 10-15 minutos. Pode parecer muito, mas é o tempo necessário para desenvolver o glúten (que é o que dá estrutura ao pão).
Como saber que está no ponto? A massa fica lisa, macia, não gruda mais na bancada. Quando você estica um pedacinho, ele não rasga, fica tipo uma película fina.
Dica da Berta: Coloque uma música! Sove no ritmo. É relaxante. É meditativo. Deixe a mente vagar. Ou não pense em nada. Só sove.
Passo 4: Primeira Fermentação (1 hora a 1h30)
Unte levemente uma tigela com azeite. Coloque a massa. Cubra com um pano de prato úmido.
Deixe descansar num lugar morno (não quente!) por 1 hora a 1h30.
A massa vai dobrar de tamanho. Isso é a fermentação acontecendo!
Onde deixar: Em cima da geladeira. Perto do fogão (mas não em cima!). Dentro do forno desligado com a luz acesa. Qualquer lugar morninho.
E agora? Agora você espera. E vai fazer outra coisa. Ler, lavar louça, tomar um chá. Sem pressa.
Passo 5: Modelar (5 minutos)
Depois que a massa dobrou de tamanho, é hora de modelar.
Tire a massa da tigela. Ela vai estar fofinha, cheia de ar.
Pressione levemente (vai sair o ar – isso é normal!).
Divida em 2 partes iguais.
Modele cada parte no formato que quiser:
- Redondo (tipo pão italiano)
- Alongado (tipo baguete)
- Em forma de pão de forma
Como modelar redondo:
- Pegue a massa
- Dobre as bordas para o centro
- Vire de cabeça para baixo
- Role suavemente na bancada (fazendo círculos) até ficar redondo e liso
Passo 6: Segunda Fermentação (30-40 minutos)
Coloque os pães numa assadeira (forrada com papel manteiga ou levemente untada).
Cubra com o pano úmido de novo.
Deixe descansar por mais 30-40 minutos. Eles vão crescer mais um pouco (não tanto quanto na primeira fermentação).
Dica: Enquanto isso, preaqueça o forno a 200°C. Pão precisa de forno bem quente!
Passo 7: Fazer os Cortes (Opcional, mas Bonito!)
Antes de ir ao forno, faça uns cortes superficiais na superfície do pão (com faca afiada ou estilete).
Pode ser:
- Três riscos paralelos
- Uma cruz
- Um corte só, no meio
Isso não é só estético. Ajuda o pão a crescer uniformemente no forno.
Dica: Se quiser, pincele um pouquinho de água na superfície. Ajuda a formar aquela casquinha crocante.
Passo 8: Assar (30-35 minutos)
Coloque no forno preaquecido (200°C).
Asse por 30-35 minutos, ou até ficar dourado.
Como saber se está pronto? Bata na parte de baixo do pão. Se fizer um som oco (tipo tambor), está pronto!
Dica: Nos primeiros 10 minutos, jogue um pouquinho de água no fundo do forno (cuidado para não se queimar!). O vapor ajuda a formar a casca crocante.
Passo 9: Esfriar (SE CONSEGUIR!)
Tire do forno. Coloque numa grade para esfriar.
Tecnicamente, você deveria esperar esfriar antes de cortar (senão a massa fica meio grudenta).
Mas quem consegue resistir a pão quentinho?
Eu nunca consigo. Corto ainda morno, passo manteiga, e como ali mesmo. É o melhor momento do dia.
Variações que Eu Faço
Depois que dominei a receita básica, comecei a variar:
Pão de Ervas
Adiciono à massa (no passo 2):
- 2 colheres de sopa de alecrim fresco picado
- 1 colher de sopa de orégano seco
Fica perfumado, delicioso!
Pão de Azeitona
Adiciono à massa:
- 100g de azeitonas pretas picadas
Perfeito para acompanhar vinho!
Pão Integral
Substituo metade da farinha branca por farinha integral.
Atenção: Pode precisar de um pouquinho mais de água (a integral absorve mais).
Pão Doce
Adiciono à massa:
- 2 colheres de sopa a mais de açúcar
- 1 colher de chá de canela
- 50g de uvas passas
Vira um pão de café da manhã delicioso!
O Que Aprendi Fazendo Pão
1. Paciência é Virtude
Pão não tem pressa. Não adianta querer apressar a fermentação. Não adianta colocar mais fermento para crescer mais rápido.
Pão cresce no tempo dele. E a gente espera.
Essa lição se aplica à vida também, não?
2. Imperfeição é Linda
Meu pão nunca fica perfeitamente redondo. Nunca tem aquele corte profissional de padaria.
E tudo bem! Ele é caseiro. É feito com amor. É imperfeito. E é lindo exatamente por isso.
3. O Processo é Tão Importante Quanto o Resultado
Claro que adoro comer o pão quentinho. Mas percebi que adoro também o processo de fazer.
Aquele tempo com as mãos na massa. Aquela espera. Aquele cheiro tomando conta da casa.
É meditação. É terapia. É autocuidado.
4. Fazer Algo com as Mãos é Poderoso
Vivemos num mundo digital. Tudo é virtual. Tudo é tela.
Fazer pão me reconecta com o concreto. Com o tangível. Com o real.
Eu crio algo. Com minhas mãos. E isso é poderoso.
O Ritual de Sexta-Feira
Hoje, fazer pão virou ritual. Todo sábado de manhã, eu faço.
Acordo, tomo meu café, e vou para a cozinha. Coloco uma música suave. E começo.
O Rúben já sabe: sábado de manhã é dia de pão. E ele fica esperando, ansioso, pelo cheiro que vai invadir a casa.
Quando o pão sai do forno, cortamos ainda quente. Passamos manteiga. Tomamos café juntos, na mesa da cozinha, sem pressa.
É nosso ritual. É nosso momento. É sagrado.
Um Convite Para Você
Se você nunca fez pão, experimente. Uma vez. Só uma.
Separe uma manhã de sábado ou domingo. Quando não tiver pressa. Quando puder dedicar umas 3 horas (contando as fermentações).
Siga a receita que te passei. Não tenha medo de errar (vai errar! Todo mundo erra no começo!).
Coloque as mãos na massa. Sove. Sinta a textura mudando. Cheire. Observe.
Espere. Com paciência. Com curiosidade.
E quando o pão sair do forno, quentinho, perfumado, crocante, você vai entender.
Vai entender por que fazer pão é mais do que fazer comida.
É fazer terapia. É fazer paz. É fazer amor.
Você já fez pão caseiro? Como foi a experiência? Me conta aqui nos comentários! 💛