O Poder Curativo do Perdão: Deixar o Passado para Viver o Presente
Foi preciso chegar aos 60 anos para entender uma verdade simples, mas profunda: carregar mágoa é como carregar uma pedra na mochila. A gente vai caminhando pela vida, sentindo

Tem uma gaveta na minha memória que eu evitei abrir durante anos. Sabe aquelas gavetas que a gente empurra com força, coloca uma trava imaginária e finge que não existe? Pois é. A minha estava cheia de mágoas, ressentimentos e palavras não ditas.

Foi preciso chegar aos 60 anos para entender uma verdade simples, mas profunda: carregar mágoa é como carregar uma pedra na mochila. A gente vai caminhando pela vida, sentindo o peso, reclamando do cansaço, mas sem coragem de parar e tirar a pedra de dentro.

Hoje quero conversar com você sobre o perdão. Não aquele perdão de cartão postal, cheio de frases bonitas. Mas o perdão real, difícil, doloroso às vezes. O perdão que cura.

A Mágoa que Eu Carreguei por Décadas

Vou te contar uma história que poucos sabem. Durante muitos anos, mantive uma relação distante com minha irmã mais velha, a Rosa. Não brigávamos abertamente, mas havia um gelo entre nós, uma conversa mal resolvida que começou há mais de 20 anos.

Foi por causa de uma herança. Nossos pais faleceram com poucos meses de diferença, e no meio da dor da perda, vieram as decisões práticas. A casa da família, alguns móveis, documentos. Coisas materiais que, de repente, pareciam valer mais do que deveriam.

Houve um mal-entendido. Palavras duras foram ditas. Acusações que feriram fundo. Eu senti que não fui ouvida, que meus sentimentos não importaram. Ela provavelmente sentiu o mesmo.

E então, fizemos o que muita gente faz: engolimos a mágoa e seguimos em frente. Mais ou menos. Nas festas de família, éramos cordiais. Educadas. Mas o carinho verdadeiro tinha desaparecido.

O Peso de Carregar a Pedra

Durante anos, sempre que pensava na Rosa, sentia um aperto no peito. Um misto de raiva, tristeza e algo que demorei para identificar: arrependimento.

Eu justificava para mim mesma: “Ela que me magoou. Ela que deveria pedir desculpas primeiro”. E ficava ali, esperando um movimento que talvez nunca viesse.

O Rúben, com sua sabedoria silenciosa, nunca me pressionou. Mas um dia, depois de mais um almoço de família tenso, ele me disse: “Berta, você já pensou em quanto tempo de vida você está perdendo com essa briga?”

Aquilo me pegou de surpresa. Tempo de vida. Era disso que se tratava, não é? A vida é curta demais para desperdiçá-la alimentando mágoas.

O Dia em que Decidi Soltar a Pedra

A Rosa teve um susto de saúde. Nada gravíssimo, mas o suficiente para me fazer pensar: e se acontecesse algo? E se ela partisse e eu ficasse aqui, para sempre, com essas palavras não ditas atravessadas na garganta?

Foi quando tomei a decisão: eu ia procurá-la. Não para cobrar, não para esperar um pedido de desculpas. Mas para perdoar. E para pedir perdão também.

Liguei para ela numa tarde de domingo. O coração batia forte. “Rosa, preciso conversar com você. Podemos nos encontrar?”

Houve uma pausa do outro lado da linha. Depois, uma voz embargada: “Eu também preciso, Berta”.

O Que Aprendi sobre Perdão de Verdade

Nos encontramos num café, território neutro. As duas meio sem jeito, como adolescentes no primeiro encontro. E então, começamos a conversar. De verdade.

Choramos. Rimos. Relembramos os pais, a infância, tudo que era bom antes da mágoa tomar conta. E pedimos perdão uma à outra. Não com grandes discursos, mas com palavras simples, sinceras.

“Me desculpa por ter sido dura com você.”
“Me desculpa por não ter te ouvido.”
“Me desculpa por deixar tanto tempo passar.”

E sabe o que percebi ali? Perdoar não é dizer que o que aconteceu não doeu. Perdoar é decidir que a dor não vai mais comandar a sua vida.

As Verdades sobre o Perdão que Aprendi:

1. Perdoar não é esquecer

Muita gente confunde. “Ah, mas se eu perdoar, é como se nada tivesse acontecido?” Não. O que aconteceu, aconteceu. As feridas existem. Mas perdoar é escolher não cutucar essas feridas todos os dias.

É lembrar sem reviver a dor. É reconhecer que houve sofrimento, mas decidir que ele não vai mais ter poder sobre você.

2. Perdoar não significa aceitar o inaceitável

Tem situações em que o perdão não significa voltar a ter uma relação próxima com a pessoa. Há feridas profundas, traições, abusos que deixam marcas permanentes.

Nesses casos, perdoar é liberar a si mesmo. É deixar de carregar o veneno da mágoa, não pela outra pessoa, mas por você. Você pode perdoar e, ainda assim, escolher manter distância. Isso não é falta de perdão, é autocuidado.

3. Perdoar é um processo, não um momento único

Eu não acordei um dia e decidi: “Pronto, perdoei”. Foi gradual. Teve dias em que a mágoa voltou, em que lembrei de algo e senti raiva novamente.

O perdão é como uma ferida que cicatriza: precisa de tempo, de cuidado, de paciência. E às vezes reabre um pouquinho. Mas, aos poucos, vai fechando de verdade.

4. A pessoa mais difícil de perdoar pode ser você mesmo

Essa foi uma descoberta dolorosa. Eu passei tanto tempo culpando a Rosa que esqueci de olhar para mim. E percebi que estava carregando uma culpa enorme: culpa por ter deixado o orgulho falar mais alto, por ter perdido anos de convivência com minha irmã, por não ter sido grande o suficiente para dar o primeiro passo antes.

Perdoar a mim mesma foi tão importante quanto perdoar a ela.

Os Benefícios Reais do Perdão

Depois que me reconciliei com a Rosa, algo mudou dentro de mim. Não foi mágica, mas foi real.

Percebi que dormi melhor. Que acordava mais leve. Que aquele peso no peito, aquela sensação de aperto, tinha ido embora. Era como se eu tivesse tirado uma armadura pesada que carregava sem perceber.

Estudos científicos comprovam o que senti na pele: o perdão reduz estresse, melhora a saúde do coração, diminui ansiedade e depressão. Guardar rancor faz mal para o corpo e para a alma.

E mais: o perdão abriu espaço. Espaço para viver o presente, para construir memórias novas com minha irmã, para aproveitar o tempo que nos resta juntas.

Como Começar a Perdoar

Se você está carregando alguma mágoa, alguma pedra pesada na mochila, deixa eu compartilhar o que me ajudou:

Reconheça a dor
Não minimize. Não finja que não doeu. Se doeu, doeu. Permita-se sentir isso.

Entenda que perdoar é uma escolha
Ninguém pode te obrigar. Mas você pode decidir, por você mesmo, que é hora de soltar.

Escreva uma carta (mesmo que não envie)
Coloque no papel tudo que sente. A raiva, a tristeza, o que gostaria de dizer. Às vezes, só o ato de escrever já alivia.

Peça ajuda, se precisar
Conversar com um terapeuta, um conselheiro espiritual, um amigo de confiança pode ajudar a processar emoções difíceis.

Dê um passo de cada vez
Você não precisa fazer as pazes de uma vez. Pode começar com uma mensagem simples, um aceno, uma conversa breve. O importante é começar.

Perdoar é Se Libertar

Hoje, a Rosa e eu conversamos pelo telefone toda semana. Tomamos café juntas duas vezes por mês. Rimos de coisas bobas, lembramos dos pais com carinho, planejamos viagens juntas.

Recuperamos o tempo perdido? Não. O tempo que passou, passou. Mas estamos construindo algo novo. E isso é precioso.

Se tem algo que a idade me ensinou é que a vida é curta demais para viver amarrado ao passado. Perdoar não é fraqueza, é coragem. Coragem de soltar, de deixar ir, de escolher a paz.

E você? Tem alguma pedra pesada na mochila que está na hora de soltar? Pense nisso. Reflita. E quando estiver pronto, dê o primeiro passo.

Você merece viver leve. Você merece paz.

Me conta aqui nos comentários: o perdão já transformou alguma coisa na sua vida? Vamos conversar sobre isso com carinho e respeito. 💛

Berta Cortéz

Jornalista, escritora, mãe, avó, esposa e eterna aprendiz da vida.

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