Vencendo o Medo do Novo: O Que Aprendi ao Me Aventurar na Tecnologia
Eu olhava para a tela do computador como se estivesse diante de um painel de controle de espaçonave. Botões, ícones, janelas que abriam e fechavam. Tudo piscando, se movendo,

“Mãe, é só clicar aqui. Aqui, ó. Nesse botão azul.”

Eu olhava para a tela do computador como se estivesse diante de um painel de controle de espaçonave. Botões, ícones, janelas que abriam e fechavam. Tudo piscando, se movendo, pedindo minha atenção.

“Qual botão azul? Tem três azuis aqui!”, eu respondia, já sentindo aquela frustração familiar subindo.

O Sebastian suspirava. Não com impaciência (meu filho é um amor), mas com aquela resignação de quem já explicou a mesma coisa dez vezes.

“Esse aqui, mãe. O que está escrito ‘enviar’.”

Ah. Esse.

Essa cena se repetiu dezenas de vezes nos primeiros meses da minha aventura tecnológica. E posso dizer com sinceridade: teve momentos em que quis desistir. Momentos em que pensei: “Isso não é para mim. Sou velha demais para aprender essas coisas.”

Mas não desisti. E hoje, estou aqui, escrevendo este blog, gerenciando meu Facebook, fazendo videochamadas com os netos, e até gravando áudios no WhatsApp (com certa dificuldade ainda, admito!).

E se eu consegui, você também consegue.

O Medo que Nos Paralisa

Vamos ser honestas: a tecnologia assusta. Principalmente para quem cresceu numa época em que telefone era aquele preto, pesado, com disco giratório. Em que carta levava dias para chegar. Em que máquina de escrever era o máximo da modernidade.

De repente, nos jogaram num mundo onde tudo é digital, instantâneo, conectado. E esperam que a gente entenda tudo naturalmente, como se fosse óbvio.

Mas não é óbvio. E está tudo bem não saber.

O problema não é a falta de conhecimento. O problema é o medo. O medo de:

  • Estragar algo
  • Apertar o botão errado e “quebrar” o computador
  • Ser enganada, cair em golpe
  • Parecer burra
  • Ser uma “velhinha que não entende nada”
  • Pedir ajuda e incomodar
  • Ficar para trás

Esses medos são reais. Eu sentia todos eles. Mas descobri que eles eram maiores do que a realidade.

Minha Primeira Grande Derrota (E Recomeço)

Minha relação com tecnologia começou mal. Muito mal.

Quando me aposentei, ganhei um computador de presente dos filhos. “Para você escrever, mãe! Você sempre quis escrever suas histórias.”

Lindo, não? Só tinha um probleminha: eu não sabia usar.

Liguei o computador. A tela acendeu com aquela luz azul. Fiquei olhando. E agora? Onde eu clico? Como eu abro um documento? Como eu escrevo?

Fiquei ali, parada, sentindo uma mistura de frustração e vergonha. Eu, que tinha sido jornalista por décadas, agora não conseguia nem abrir um programa de texto.

Desliguei o computador e não liguei de novo por duas semanas.

“Não vai usar o presente?”, perguntou a Milene num almoço de domingo.

“Ah, filha, é muito complicado. Acho que vou continuar escrevendo à mão mesmo.”

Foi quando o Sebastian se ofereceu: “Mãe, eu te ensino. De verdade. Com paciência. Sem pressa. Que tal?”

Aceitei. Não porque estava confiante, mas porque estava cansada de ter medo.

As Lições Dolorosas (Mas Necessárias)

O Sebastian veio em casa todo sábado durante dois meses. Duas horas de aula. E foi nesse processo que aprendi algumas verdades importantes:

1. Erro Faz Parte (E Não Quebra Nada)

Meu maior medo era estragar o computador. “E se eu apertar o botão errado e perder tudo?” “E se eu deletar algo importante?”

O Sebastian ria: “Mãe, é muito difícil quebrar um computador só apertando botões. E quase tudo tem como desfazer. Vê esse ‘Ctrl+Z’? É o botão mágico que volta atrás.”

Quando entendi isso, ganhei coragem. Comecei a explorar, a clicar, a testar. E sim, apaguei textos sem querer. Fechei programas sem salvar. Travei o computador algumas vezes.

Mas nada disso foi permanente. Tudo tinha solução.

Aprendi: Errar é a única forma de aprender. E tecnologia permite erro. Permite tentar de novo.

2. Não Existe “Pergunta Burra”

Eu tinha vergonha de perguntar coisas “óbvias”. Achava que todo mundo já sabia e eu era a única perdida.

“Sebastian, o que é esse ‘hashtag’?”
“Como eu faço para aumentar a letra?”
“Por que tem duas barras no navegador?”

No começo, eu pedia desculpas antes de cada pergunta: “Desculpa a ignorância, mas…”

Até que ele me cortou: “Mãe, para de pedir desculpa. Você não tem que saber. Ninguém nasce sabendo. Eu também não sabia e tive que aprender.”

Aprendi: Não existe vergonha em não saber. A vergonha está em não perguntar e continuar na ignorância.

3. Cada Um Tem Seu Tempo

Eu via o Sebastian fazendo as coisas em segundos. Clique aqui, clique ali, pronto. Parecia mágica.

E eu? Eu era lenta. Muito lenta. Precisava ler tudo, pensar, confirmar, reler. O que ele fazia em 10 segundos, eu levava 5 minutos.

E isso me frustrava.

“Mãe, não tem problema ser devagar. O importante é aprender do seu jeito, no seu tempo”, ele me dizia.

Aprendi: Comparação mata o aprendizado. Cada pessoa tem seu ritmo. E tudo bem.

4. Anotações São Suas Amigas

Depois de um mês de aulas, eu continuava esquecendo passos básicos. “Como mesmo que eu faço para anexar um arquivo no e-mail?”

Foi quando comecei a anotar. Tudo. Passo a passo, com desenhinhos, setas, círculos.

Criei um caderninho só para isso: “Manual da Berta para Tecnologia”. Parece bobo, mas virou minha salvação. Até hoje consulto quando esqueço algo.

Aprendi: Não confie só na memória. Escreva. Anote. Consulte sempre que precisar.

5. A Tecnologia É Uma Ferramenta, Não Um Monstro

Durante muito tempo, vi a tecnologia como inimiga. Algo que estava ali para me fazer sentir burra, para complicar minha vida.

Mas quando comecei a dominar algumas coisas, percebi: tecnologia é só uma ferramenta. Como um martelo, uma panela, uma caneta.

Não é boa nem má. Depende de como você usa.

E quando bem usada? Ela facilita a vida enormemente.

Aprendi: Mude a narrativa. Tecnologia não é sua inimiga. É sua aliada.

Minhas Conquistas (Que Me Enchem de Orgulho)

Hoje, olho para trás e não acredito no quanto avancei. Parece pouco para quem cresceu com celular na mão, mas para mim, são vitórias enormes:

Escrevo meus artigos no computador (e sei salvar, formatar, até colocar negrito!)
Gerencio minha página do Facebook (posto, respondo comentários, compartilho)
Faço videochamadas com os netos (a coisa mais linda do mundo!)
Uso WhatsApp (mensagens, áudios, até figurinhas!)
Pesquiso receitas na internet (e imprimo quando gosto muito)
Vejo vídeos no YouTube (inclusive tutoriais quando preciso aprender algo novo)
Pago contas online (com cuidado, mas pago!)
Faço compras online (pequenas, mas faço!)

Cada uma dessas coisas foi uma conquista. Uma pequena vitória contra o medo do novo.

Os Golpes e Perigos (Que Aprendi a Evitar)

Não vou mentir: a tecnologia também traz riscos. Principalmente para quem está começando.

Já quase caí em golpes. Já recebi mensagens falsas. Já cliquei em links suspeitos (por sorte, sem consequências graves).

Mas aprendi. E aqui vão minhas regras de ouro:

Regra 1: Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é golpe.
Regra 2: Banco nunca pede senha por mensagem, telefone ou e-mail.
Regra 3: Desconfie de urgências (“Seu CPF foi bloqueado! Clique aqui agora!”).
Regra 4: Antes de clicar em qualquer link, pergunte para alguém da família.
Regra 5: Não passe dados pessoais, senhas ou números de cartão para ninguém.

Essas regras me salvaram várias vezes. E podem salvar você também.

O Que a Tecnologia Me Deu de Presente

Vencer o medo da tecnologia mudou minha vida. De verdade. E não estou exagerando.

Me reconectou com pessoas queridas

Consegui retomar contato com amigas que moram longe. Converso com elas por mensagem, vejo fotos das famílias delas, mato a saudade.

Me abriu um mundo de conhecimento

Posso assistir a palestras, ler artigos, aprender sobre qualquer assunto. O conhecimento está ali, a um clique. É incrível!

Me deu voz

Este blog só existe porque venci o medo. E através dele, conecto com pessoas que nunca conheci pessoalmente mas que se identificam com minhas histórias.

Me fez sentir incluída

Não estou mais “fora” das conversas. Quando os filhos falam sobre tecnologia, entendo (pelo menos um pouco!). Não me sinto mais deixada para trás.

Me provou que ainda posso aprender

Essa talvez seja a maior conquista. Provei para mim mesma que a idade não me impede de aprender coisas novas. Meu cérebro ainda funciona. Ainda sou capaz.

E isso? Isso não tem preço.

Um Convite Para Você

Se você está lendo isto e se identifica com meus medos, deixa eu te dizer: comece. Comece pequeno, mas comece.

Não precisa dominar tudo. Não precisa virar especialista. Só precisa perder o medo de tentar.

Escolha uma coisa. Uma só. Pode ser:

  • Aprender a fazer videochamada
  • Criar um perfil no Facebook
  • Enviar fotos pelo WhatsApp
  • Assistir a vídeos no YouTube
  • Pesquisar receitas na internet

Uma coisa de cada vez. Peça ajuda (filhos, netos, vizinhos, amigos mais jovens adoram ensinar!). Anote os passos. Pratique. Erre. Tente de novo.

E celebre cada pequena vitória.

Porque cada vez que você vence um medo, você cresce. Você se expande. Você prova que é capaz.

A tecnologia não é para “os jovens”. É para quem quer se conectar, aprender, crescer.

E isso não tem idade.

E você? Qual sua maior dificuldade com tecnologia? Ou qual sua maior conquista? Vamos compartilhar e nos ajudar mutuamente! 💛

Berta Cortéz

Jornalista, escritora, mãe, avó, esposa e eterna aprendiz da vida.

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